Bandeiras dos Palop

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Brasil - Da escravatura aos quilombos

Tudo começou com a passagem do Cabo Bojador, em 1434. A pouco e pouco, os portugueses foram perdendo o medo pelo mar e pela aventura e arribaram a terras do norte de África primeiro, avançando progressivamente para sul, à medida que novas descobertas eram feitas e novas informações ou boatos, iam chegando, do aparecimento de novas terras.
Caravana de escravos a caminho do litoral africano
O primeiro entreposto africano que Portugal estabeleceu em África para a recolha de escravos, foi
a Feitoria da Ilha de Arguim, hoje Mauritânea, em 1448. Mas já antes disso haviam sido trazidos algumas centenas escravos que ficavam em Portugal, ou eram vendidos para Espanha, com destino às Índias Espanholas.

Os escravos eram caçados ou comprados no sertão e transportados para os barcos negreiros, onde, em condições sub-humanas, faziam a viagem de dias ou de meses, em compartimentos não arejados, com o mínimo de alimento e permanentemente amarrados para evitar que fugissem ou se revoltassem.
Negros cativos, sendo transportados para o navio negreiro
Não havia distinção entre crianças, adultos ou mulheres, que depois eram separados, sendo família ou não, com destino a diferentes locais desconhecidos. Não raro, seguiam no mesmo barco, escravos de tribos rivais, o que aumentava ainda mais o sofrimento e a revolta interior.

A imagem mostra um transporte de escravos

Ao longo dos anos, foram sendo transportados para várias novas terras então descobertas, como S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Madeira, Portugal e Espanha.



Com a descoberta do Brasil, era preciso mão de obra de gente forte e robusta, já que se procedia à plantação de cana de açúcar em larga escala e os senhores dos engenhos, não queriam índios para trabalhar, por serem de ruim qualidade e fracos, além de se revoltarem e criarem situações de permanente conflito. Considerando que os negros vindos da Guiné, Angola e outros países, eram dóceis e resignados à sua sorte, começou então o tráfego em grande escala.


  Estes escravos, trabalhando em regime intensivo e com o mínimo de condições para sobreviver, tinham capacidade para trabalhar bem, durante cerca de sete anos, pelo que se tornou necessária uma boa regularidade nos transportes.
E assim se foram acumulando no Brasil milhões de negros explorados, maltratados e completamente ás ordens dos seus amos.
 Calcula-se que só para o Brasil, tenham sido levados cerca de quatro milhões de escravos, em pouco mais de três séculos!


Com o aumento do consumo do açúcar em todo o Mundo, principalmente na Europa, os senhores dos engenhos exigiam cada vez mais trabalho com castigos físicos assegurados aos escravos que não correspondessem. Os maus tratos, os abusos sexuais, a fome e a miséria humana, iam desencadeando um sentimento mudo de revolta e a fuga ou a morte, era a escolha de muitos escravizados.

 Enfrentando todo o tipo de perigos, como animais selvagens, caçadores de escravos e matagais serrados onde se prendiam os grilhões que traziam ao pescoço, fugiram milhares de negros que, depois, se iam juntando em locais inóspitos, construindo as suas próprias aldeias ou Quilombos.

Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília
Os quilombos espalharam-se um pouco por todo o Brasil e organizaram-se para se defender dos inimigos, mas também para preservar as suas danças, hábitos e tradições africanas. Eram atribuídas tarefas e tal como em África, havia os senhores negros, que por sua vez tinham os seus escravos, mas que não era a mesma coisa a que vinham habituados das plantações de cana, pois viviam na casa dos seus amos, sendo obrigados a todo o respeito.

Durante muitos anos, portugueses antes e brasileiros depois, tentaram por todos os meios pôr fim a esta organização dos negros mas, apesar de bem armados e municiados, nunca conseguiram. A liberdade também era apreciada pelos negros que viviam as suas vidas nas extensas savanas africanas.

Hoje, tantos anos passados depois da escravidão, existem quilombos espalhados por vinte e seis Estados do Brasil, reconhecidos pela Constituição de 1988, que assegurou às comunidades quilombolas o direito à propriedade de suas terras. Entretanto, passaram quase cinco séculos!