Vai fazer 12 anos que morreu Amália.
Sepultada no Panteão Nacional onde só ficam portugueses de grande vulto, foi a maior fadista de todos os tempos, aclamada em todo o mundo. E era uma fadista que cantava poemas populares para o seu povo, como mais ninguém conseguiu fazer, até hoje.
1971, base aérea nº 9, Luanda.
Correu célere a notícia do espectáculo de Amália no cinema ao ar livre da base. Era um cinema bonito, bem arrumado e espaçoso, dívidido em três plataformas. Uma espécie de geral, plateia e 1º balcão, dos cinemas convencionais. A geral para os soldados, a plateia para sargentos e o lº balcão, mais afastado, para os ofíciais.
Na noite do espectáculo, o cinema abarrotava de gente de todas as patentes.Todos queriam ver de perto a diva, senti-la!
Assim, nessa noite, foram trocados os lugares e os soldados passaram para o lº balcão e oficiais para a geral. Ficavam assim mais perto do palco e os soldados, mais afastados.
Amália entrou com uma ruidosa salva de palmas. Afinaram-se as guitarras, os microfones, as luzes e saíu da sua boca um: Boa noite a todos! Tenho muita alegria e prazer em estar aqui no meio de vós.
Nova e ruidosa salva de palmas e, de repente, a pergunta:
Onde estão os soldados que não os vejo? (ecoaram gargalhadas e algumas palmas em surdina). Eu quero os meus soldados aqui á frente. Foi para isso que aqui vim. Estar no meio deles.
Vamos senhores oficiais, tenham paciência e troquem de lugares, para eu sentir o vibrar destes bravos soldados! Seguiram-se uns segundos de silêncio sepulcral, mas ninguém se opôs e os ofíciais trocaram com os soldados.Então Amália, repetiu: Boa noita a todos! E um coro imenso respondeu: Boa noite Amália!
E começou o espectáculo. Era assim Amália. Sabia cantar o fado e sabia com quem partilhá-lo.
Um exemplo a seguir?
