Bandeiras dos Palop

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Portugal, Salazar e a Segunda Guerra Mundial - 1

Salazar
A diplomacia de alto risco

Numa altura em que se comemoram os 70 anos do fim da segunda guerra mundial, fazendo um rápido balanço, olhamos à nossa volta e constatamos que,  afinal, não existe uma, mas muitas guerras espalhadas pelo Mundo.

Portugal, não participou na segunda guerra mundial, mas a gestão de tão grande crise internacional por parte do governo português da altura, chefiado por António Oliveira Salazar, foi muito mais difícil, dura e complicada, do que se possa imaginar. Portugal não entrou na guerra, mas adoptou políticas internas e externas de contensão à guerra.

De facto, pela sua importância estratégica e também pelos seus territórios fora do continente, nomeadamente Açores e Cabo Verde, Portugal esteve várias vezes em cima da mesa de Hitler, para ser invadido juntamente com a Espanha, ou, até, numa coligação
entre alemães e espanhóis, já que Gibraltar era e é inglês, mas está em terreno espanhol.

 Gibraltar seria assim o grande motivo para o lançamento da Operação Félix, que incluía a Operação Isabella, essa sim, destinada a invadir Portugal com rapidez, tipo Blitzkrieg, que partindo de Cáceres em Espanha, com três divisões alemãs e o apoio do exército espanhol, atacariam os portos de Lisboa e Setúbal, tapando assim as portas aos britânicos (nossos aliados).

Uma outra divisão de infantaria motorizada partiria de Valladolid, atacaria o norte do país e avançaria em direcção ao sul. Finalmente uma brigada de infantaria ligeira que partiria de Sevilha e entraria pelo Algarve, controlaria todo o litoral sul e avançaria depois para Lisboa. Consumada a invasão e controlado o território, tropas espanholas ficariam a ocupar Portugal. Isto se Hitler e o General Franco, tivessem chegado a acordo quanto ás contrapartidas de guerra, o que não aconteceu.

Salazar e Franco
Na verdade, Salazar sabia os riscos enormes que corria e fez da sua astúcia e inteligência um uso verdadeiramente formidável, já que não se opondo aos alemães, não alinhava com eles e não alinhando com os ingleses, situava-se inteligentemente em terreno neutro, usando a diplomacia e fazendo negócios e contrapartidas com os dois poderosos beligerantes, retirando vantagens para Portugal. Em 1939, Portugal declarou a sua neutralidade, apesar da sua antiga Aliança Luso-Britânica e manteve-a até ao fim da guerra.

Ainda em 1939, por ordem de Salazar, foi assinado um pacto de não agressão com a Espanha de Franco, recusando, ao mesmo tempo, o convite do embaixador italiano para aderir ao Pacto Anti-Komintern entre a Alemanha, Itália e o Japão.
Ainda em 1939, foi assinado um acordo de cooperação militar com a Grã-Bretanha, para apoiar directamente o reforço e modernização do exército português.
 No entanto o governo de Salazar, perante a possibilidade de uma invasão, planeia uma retirada estratégica para os Açores, para onde foram enviados milhares de soldados e a quase totalidade da aviação portuguesa. Pensa-se contudo que a Operação Félix nunca se realizou porque a preparação do ataque à Rússia se tonara prioritário para o Alto Comando Alemão.
Tropas portuguesas em Timor 1945

Em 1941, o Japão invade Timor, que foi o único espaço português onde existiram combates com tropas portuguesas. Na Austrália, ainda é formada uma companhia de para-quedistas  portugueses, para serem lançados atrás das linhas japonesas e efectuarem operações de guerrilha. No entanto, considerando as relações diplomáticas entre Portugal e o Japão, não estava excluída a possibilidade da entrega de medicamentos ou correio aos japoneses, através da Cruz Vermelha. (Aqui está novamente uma jogada de cintura dos portugueses, que se preparavam para atacar por um lado, mas "colaborar" pelo outro, no tal esforço de conservação de neutralidade.)

Salazar, na sua larga visão da política e do Mundo, entendia que Portugal nada tinha a ver com as políticas europeias e preocupava-se apenas com Portugal e com o seu Império Colonial, esse sim, digno de todo o esforço e dedicação. Por isso foi feito o acordo com os ingleses, mas de forma a acautelar a margem de manobra de Portugal, por forma a ficar com plena liberdade de movimentos. Afinal estávamos no início da guerra e a situação política e militar eram assuntos que viriam a ter ainda grandes desenvolvimentos.


Não se pode contudo negar ou esconder a enorme habilidade e dureza de negociação política de Salazar. Se Winston Churcill foi um homem inteligente, destemido e grande estratega, envolvendo progressivamente os americanos no esforço de guerra e com todo o mérito, Salazar, sem vontade para a guerra, praticamente sem armas, sem exército, com um país debilitado e com pouco peso no contexto internacional, conseguiu executar diversas grandes manobras políticas que o impuseram como um homem silencioso, mas possuidor de rara inteligência e habilidade política. E foi reconhecido por isso, nos vários acordos que posteriormente foram assinados com ingleses,  americanos e alemães, que se traduziram em vitórias políticas, como o famoso caso das Lages, de onde foram retiradas vantagens em favor de Portugal, que ainda hoje se mantêm.

Entretanto os Aliados fazem planos para invadir os Açores, mas como Salazar já mandara um reforço de milhares de soldados e aviões como medida preventiva, acabaram por desistir da ideia, considerando que seriam muito elevadas o numero de baixas para alcançar o objectivo.

Soldado da RAF falando com Açorianas
Com a cada vez maior aproximação entre Churchill e Roosevelt, planeia-se a ocupação dos Açores por tropas brasileiras. Churchill, depois de muita insistência, acaba por convencer Salazar a assinar o Acordo Luso-Britânico em Agosto de 1943, para cedência da Base das Lajes que, a partir de 1944, ficaria na posse dos Estados Unidos. Este acordo, foi complementado com várias e pesadas imposições de Salazar, incluindo a manutenção dos territórios portugueses de África, se a guerra fosse ganha pelos aliados. (Verdadeira obra prima diplomática)

É também em 1944, que Portugal é finalmente proibido de vender volfrâmio à Alemanha, por imposição dos aliados. De facto a importância do volfrâmio tornara-se vital e chegaram a haver movimentações por parte dos ingleses para derrubar Salazar, caso não parasse com os fornecimentos à Alemanha. Até esta data contudo, Salazar vendeu volfrâmio aos Ingleses e aos alemães (ingleses compraram maiores quantidades que a Alemanha) num verdadeiro jogo do gato e do rato, fazendo sair o volfrâmio destinado aos alemães pela Espanha (acordo secreto com Franco?), via França ocupada, sem os ingleses saberem.
 A situação de Portugal do ponto de vista do abastecimento de bens de consumo, petróleo e outros, era delicada e por isso Salazar fez tudo o que pôde para evitar esta proibição. Nos anos de 1990, ainda existiam barras de ouro com a chancela nazi, no Banco de Portugal.

Barras de ouro nazi, do Banco de Portugal
Resta dizer que no final da guerra, fruto das negociações, contratos e acordos, Portugal tinha o exército mais numeroso e bem equipado de sempre.
A aviação tem um enorme desenvolvimento, quase comparada à de Espanha.

Finalmente pode concluir-se que foi correcta a estratégia seguida pelo governo de Salazar, que conseguiu, com enorme habilidade política, evitar compromissos demasiado apertados quer com aliados, quer com alemães, deixando Portugal de fora do maior conflito da história e ainda retirar dividendos económicos, sociais e políticos, embora tenham existido racionamentos de vária ordem que o povo teve de suportar.