Bandeiras dos Palop

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Portugal, Salazar e a Segunda Guerra Mundial - 2





Refugiados polacos fugindo de nazis e soviéticos
A Rota dos refugiados e espiões.
Quando em 1939 o exército alemão invadiu a Polónia, para satisfazer a vontade expansionista de Hitler, que entretanto assinara com a URSS o Pacto Molotov-Ribbentrop, desencadeou um temor horrível em toda a Europa. Não estando sozinho nesta ânsia expansiva, o pacto tinha sido assinado com o objectivo de dividir a Polónia em duas partes: uma seria para a Alemanha e a outra, para a URSS, como veio a acontecer.
Invasão da França

Apenas 21 anos depois da primeira grande guerra ter
terminado, eis que a França e a Inglaterra, declaram guerra à Alemanha, em sinal de solidariedade para com a Polónia.
 Logo em 1940, foi invadida a França e os Países Baixos. De imediato a Itália declarou guerra à França, quatro dias antes de os alemães ocuparem Paris, a 14 de Junho de 1940, refugiando-se o governo, muito a custo, na cidade de Bordéus.

Estava aberto o caminho para a Segunda Grande Guerra. Com toda a Europa ocupada, ou em vias de isso acontecer, restavam Espanha e Portugal, muito embora a cobiça alemã não se tenha esquecido destes dois países do sul, pelo menos, nos primeiros tempos de guerra. Nas contas do Alto Comando Alemão, havia muito tempo para resolver o problema da Península Ibérica.
Da França, Holanda, Polónia e da própria Alemanha, começaram a fugir milhares de cidadãos tementes dos acontecimentos que se iriam seguir. E todos os meios serviam, desde que conseguissem chegar "às portas do paraíso": Portugal.

Salazar, parece, embora apreciando Hitler, era contra o anti-semitismo e um homem católico. Já em 1937, havia publicado uma séria de textos onde se manifestava claramente contra as características raciais do nacionalismo alemão. Em 1938, saiu em defesa dos Judeus portugueses, dando instruções à Embaixada da Alemanha, para que os seus interesses fossem defendidos com diplomacia mas muita firmeza.


A Política de Salazar, desde o inicio da perseguição aos Judeus, foi a de facilitar a sua entrada, desde que pudessem deixar rapidamente Portugal e partir, principalmente para o Brasil e Estados Unidos. A sua ideia, era não afrontar os alemães que temia, mas de alguma forma auxiliar cidadãos desesperados e abandonados, mas de acordo com as leis internacionais. Por isso em Novembro de 1939, assinou a Circular Nº 14 do MNE, para de alguma forma disciplinar a passagem de vistos pelos consulados, pois que dada a grave situação que se vivia, todos os oportunistas, apátridas, gente em idade militar, tentavam chegar ás fronteiras portuguesas.

Salazar, também permitiu que muitas organizações Sionistas se estabelecessem em Portugal, precisamente para apoiarem os Judeus em fuga. Considerando a situação de emergência que se vivia na altura, é impossível calcular o número de refugiados que beneficiaram da hospitalidade portuguesa, mas os números são impressionantes e calculam-se entre os cem mil, até um milhão. Notável para um país que há época, rondava os seis milhões de habitantes!

Caça aos Judeus na Hungria
Entretanto na Alemanha, já alguns anos se tinha iniciado a caça aos judeus, inimigos do Reich e do povo alemão. Perseguições, prisões indiscriminadas, marcação com a estrela de David, supressão de bens e fortunas, ouro, prata, livros, obras de arte. Mas havia também os alemães que não seguiam Hitler e que da mesma forma eram perseguidos e presos, retirando-lhes o direito ao trabalho ou à propriedade. Na verdade, o que estava subjacente a esta política de destruição e morte indiscriminada, era a substituição pura e simples das raças não eslavas, por raças puras alemãs, louros e de olhos azuis. (De notar que Hitler, não era louro, nem tinha aspecto eslavo). A Grande Alemanha do futuro, seria constituída apenas por raça pura eslava. Por isso os Judeus, teriam de ser completamente aniquilados, em toda a Europa.
Face a um tão grande ódio manifestado logo desde a Juventude Hitleriana, milhões de Judeus e outros cidadãos perseguidos, vislumbravam apenas uma saída: a fuga, nem que isso lhes custasse as economias de uma vida, ou até a própria vida.


Mapa esquema das zonas de fuga

Por isso Portugal, situado no extremo sul da Europa e sendo um país neutro, com o oceano à sua frente, prometendo as Américas do outro lado, era um objectivo que todos queriam alcançar. Não com a ideia de por aqui ficar, porque era perto demais, mas com o sonho dilacerante de atravessar o mar rumo às longínquas Américas, na procura de uma nova vida, de uma nova oportunidade. Para chegar à fronteira portuguesa, tinham primeiro de atravessar sabe Deus como, metade da Europa. O desespero transformava-se em coragem, arrostando com todo o tipo de perigos pelo traiçoeiro caminho, incluindo "passadores" que recebiam o dinheiro e os deixavam abandonados no meio de nada, sujeitos a serem apanhados por patrulhas alemãs, ou denunciados e muitos o foram.


Lisboa anos 1940
Lisboa, nesses anos de 1940, era uma cidade quase provinciana, para quem vinha das principais cidades da Europa e rapidamente se transformou, duplicando o seu número de habitantes de todas as nacionalidades. Hoteis, pensões, quartos, águas-furtadas, tudo servia para abrigar e esconder, a preço de ouro.
 Progressivamente foi chegando gente cada vez mais importante e endinheirada, ocupando tudo o que praticamente havia em Lisboa, Cascais e Estoril. De um ano para o outro, Lisboa e arredores, transformaram-se numa urbe de cariz internacional, onde todas as línguas eram faladas e ouvidas.
Embaixadores e diplomatas de praticamente todos os países, estavam presentes. Gente da alta finança, procurando salvação e membros de antigos governos, agora no exílio, faziam fervilhar Lisboa.
 Era como se de repente, se tivesse transformado na capital da Europa, com gente em movimento por todo o lado, procurando, tentando saber, negociando, informando-se dos últimos acontecimentos, tentando fazer novos conhecimentos com mil cuidados, pois nunca se sabia quem podia estar do outro lado.
Hotel Palácio Estoril

De facto, com a invasão relâmpago da Europa, nem só os pacíficos cidadãos procuravam ajuda e refúgio. Os serviços secretos de muitos países, incluindo a Alemanha e o Japão, sabiam deste fluxo imenso de gente e os espiões inundavam a cidade, que sabiam muito fértil na colheita de informações. A espionagem bem como a contra-espionagem estavam na ordem do dia e alteraram por completo a tranquila forma de vida de Lisboa, Cascais e Estoril principalmente, dado que era aí que se encontravam os mais bem equipados e renomados hoteis e estâncias marítimas.


 Espiões de renome internacional, estacionavam em Portugal, como Juan Pujol Garcia, catalão ao serviço dos ingleses, com larga experiência na Guerra Civil Espanhola ou Ian Fleming, espião da Inteligência Naval Britânica e que se hospedou no Hotel Palácio do Estoril, vindo mais tarde a escrever os livros da famosa série James Bond.


As movimentações dos serviços secretos eram mais que muitas, vestidos e travestidos de várias formas, com bigode ou barba crescida, ou de bengala a tiracolo, para melhor se passar sem dar nas vistas. Contudo, havia preferências nestes tempos conturbados e os espiões dos Serviços Secretos Alemães, por exemplo, gostavam de ficar no Hotel Atlântico, no Grande Hotel do Monte Estoril ou no Hotel Parque. Os ingleses, já apreciavam mais o Grande Hotel da Itália no Monte Estoril ou o Hotel Palácio. Afinal, inimigos, disfarçados, elegantes e sofisticados, mas bem juntos para melhor absorverem qualquer "transpiração" do inimigo e ganhar vantagem.