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Grécia e União Europeia. Onde está o rastilho?


Nunca se viu, desde a criação da União Europeia, uma crise com as dimensões da actual, que colocam a Grécia, mas também a própria UE, no fio da navalha.

À primeira vista tudo indica que, como bom devedor, a Grécia, deveria assumir os seus compromissos, pagando aquilo que deve aos seus credores. A profundidade do problema contudo, não fica apenas por aqui.
Conforme vem sendo costume em muitos países, importa salvaguardar os interesses dos bancos, concedendo empréstimos de consolidação que depois são pagos através do lançamento de impostos e cortes diversos, nas regalias e direitos de quem trabalha. Resumindo, empresta-se aos bancos e depois quem tem que pagar os juros mais o próprio, são os contribuintes, que nada têm a ver com os bancos. Curiosamente, muitos governos aderem a este tipo de capitalismo desenfreado, esquecendo completamente o seu próprio povo, retirando-lhes direitos e carregando-os de impostos que, na verdade, não devem pagar.



É conhecido o modo perdulário como o governo grego tem actuado. Pouca eficácia na cobrança de impostos, relações politico/financeiras com a Igreja Ortodoxa complicadas e ainda as facilidades concedidas aos armadores gregos, quer do ponto de vista da cobrança de impostos, quer na liberdade para transferirem fortunas para o estrangeiro e paraísos fiscais. Enquanto tudo isto acontece, o povo grego vê os seus impostos a aumentar e os rendimentos a encolher, sem qualquer tipo de culpa, chegando finalmente ao ponto de apenas poderem levantar até 60 euros por dia, enquanto que aqueles que beneficiaram directamente dos empréstimos, estarão a salvo de toda esta derrocada.

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Mas a Grécia, com todos os seus defeitos e virtudes, não é um devedor qualquer. A sua posição geo-estratégica é de extrema importância para todo o Ocidente e não apenas para a União Europeia.

 Desde a Segunda Guerra Mundial que a Grécia encara com dificuldade a Alemanha e, do meu ponto de vista, com toda a razão. (Na Ilha de Creta, os alemães, face às dificuldades encontradas, declaram que: "por cada alemão morto, morrerão 100 cretenses"!) 

Para além de ser na actualidade um dos países que mais refugiados tem recebido, tem fronteira com a Turquia, um colosso militar temido e respeitado, quer a Ocidente, quer a Oriente. E a vontade antiga de a Rússia aumentar a sua influência na zona do Mediterrâneo, é conhecida. Não é inocente a viagem do 1º ministro grego a Moscovo.

Posto isto, é insensato por parte de UE, todas as pressões e chantagens que tem feito sobre a Grécia. Há muito mais valores em jogo que o valor de dinheiro! O 1º Ministro grego, percebeu isso e daí o referendo, colocando nas mãos do povo a decisão. Pela primeira vez na história, vimos a Rússia, os Estados Unidos e a China, do mesmo lado, pedindo cautelas à UE. Verdadeira surpresa. Porquê? Porque estes países já entenderam que a "bomba" que pode estourar na Grécia, vai mandar estilhaços um pouco por todo o Mundo!


A ganância do capitalismo, do dinheiro a qualquer preço, tem cegado os dirigentes da União, que parece não enxergarem mais nada. Esta paz milagrosa que temos vivido na Europa, pode ser fortemente comprometida se o problema grego não for entendido como um problema de todos, que urge resolver com mais tolerância e boa-vontade. 


O tempo, irá mostrar quem afinal vai ter de ceder. Que o bom senso se sobreponha ao dinheiro, deve ser o desejo de todos os que desejam a paz e o progresso, que não é o que temos visto até hoje. A Grécia, tem o dever de pagar. A União Europeia e os seus dirigentes, têm a obrigação de criar condições para que essa dívida possa ser paga, sem o espectro da miséria instalado na casa de milhões de gregos inocentes.