Bandeiras dos Palop

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Confeitaria Colombo do Rio. A história do seu fundador.

Manuel José Lebrão
Manoel José Lebrão, nasceu na freguesia de Sopo, no concelho de Vila Nova de Cerveira, Portugal e emigrou para o Brasil, tinha cerca de 13 anos de idade.
Escolhendo o Rio de Janeiro para início de vida, começou como aprendiz de confeitaria, onde esteve durante dez anos. Posteriormente, tentou outros negócios, mas as coisas não corriam bem.

Mais tarde, conheceu aquele que viria a ser o seu sócio capitalista, Joaquim Borges de Meirelles e, juntos, decidiram abrir a Confeitaria Colombo, em 1894 e tudo correu ás mil maravilhas porque, os fieis frequentadores da então muito conhecida Confeitaria Pascoal, na Rua do Ouvidor, se haviam zangado com o patrão e passaram para a Colombo, onde Lebrão os atendia com toda a cortesia.

 Depois, entre 1912 e 1918, foram feitas grandes obras de remodelação e, em 1922, procedeu-se à sua ampliação com a construção de um segundo andar, com um salão de chá. Paralelamente, eram importados os melhores produtos alimentares da Europa. Lebrão, queria uma verdadeira confeitaria à francesa.

As modas então em vigor na França e nas chamadas elites europeias, entretanto conhecidas por Lebrão, determinaram que o nome da confeitaria fosse francês e que os próprios bolos e tartes, assim como pratos confeccionados, tivessem nome afrancesado, para mais facilmente seduzir e atrair o povo desejoso de modernismo do Rio de Janeiro da época. Nas palavras de Lebrão o ambiente vivido na Colombo, tinha de ser genuinamente francês. O sucesso, foi imediato.


As grandes elites brasileiras da época, eram clientes da Colombo. Nomes tão conhecidos como Olavo Bilac, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga e muitos outros, ali faziam o seu quartel general, arrastando por sua vez todos os que queriam ver e sentir o ambiente e a vivência  daquele requintado espaço. 

As relações de simpatia e cordialidade com a maioria destes importantes clientes, muitos deles jornalistas influentes, eram cuidadosamente cultivadas por Manuel Lebrão, que se havia já afirmado como um empresário sagaz, excelente comunicador, condutor de homens e acautelado empreendedor. Para Lebrão, o lema máximo, já naquela altura, não deixava dúvidas: " O freguês tem sempre razão". O pessoal, cumpria à risca.

Placa do Centenário

Como consta da página 578-confeitarias-do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, de 1891 a 1940:

Lebrão e Cª, Rua Gonçalves Dias, 32,34 e 36, Rio de Janeiro. 

Sócios: Manoel José Lebrão e Joaquim Borges de Meirelles, comanditário
António Ribeiro França (empregado com grande simpatia e considerado pelos clientes), interessado
Benjamin Augusto de Magalhães, interessado
António Francisco Corrêa, interessado
Elóy José Jorge, interessado
Guilherme Antunes de Magalhães, interessado
João Manuel Lebrão, interessado

Era com esta forma constitutiva que Lebrão aglutinava e incentivava os seus trabalhadores. De resto, alguns dos empregados, tinham vindo de Portugal a seu pedido e escolhidos a dedo.
Acontecia então o seguinte: os interessados podiam, trabalhando bem, chegar à gerência da firma e obter lucros. Os trabalhadores podiam chegar a interessados, obter lucros, mas não à gerência. Nas cartas que eram entregues aos clientes para escolher o menu, constava: "os empregados, não aceitam gorjetas". Para isso, pagava uma pequena percentagem nas vendas.

 Mas Lebrão fez ainda mais no que toca ás regalias do seu pessoal. Foi o primeiro empresário do Brasil a dar férias colectivas remuneradas aos empregados naqueles anos de 1900, coisa que só viria a acontecer, sessenta anos mais tarde. Por isso, trabalhar na Colombo, era uma honra para os próprios trabalhadores que se sentiam felizes, organizados e dirigidos por quem aceitavam como seu verdadeiro líder.


Mas com o alargamento das instalações da Colombo, os armazéns e refinaria que detinha nos fundos foram arrasados. Então Lebrão, mandou construir uma fábrica em Teresópolis para produzir marmelada e uma em Piedade-Magé, para fabricar goiabada. (foto à esquerda)

Entretanto nas traseiras da estação de Leopoldina-Magé, construiu uma fábrica que absorvia parte da produção de bananas da região. O sentido de oportunidade, aproveitando assim o caminho de ferro, para sua melhor distribuição e produzindo directamente, para evitar intermediários.

Fábrica de Lebrão em Leopoldina
Em Teresópolis comprou uma quinta que foi alargando progressivamente (Quinta Lebrão) que na altura era uma referência na região, onde produzia marmelos para abastecer a sua fábrica e construiu um belíssimo palacete em estilo neo-clássico francês com belos jardins, que mais tarde ofereceu à prefeitura. Hoje, a rua de acesso à propriedade tem o nome de Manuel Lebrão, em homenagem à sua dedicação pela cidade. Infelizmente, depois da sua morte, os terrenos foram ocupados por uma das maiores favelas da cidade, que ainda hoje se mantém. Calcula-se que vivam ali, mais de 7 mil pessoas.
A sua actividade como benfeitor, estendeu-se também ao Rio, onde deu largo contributo à Santa Casa da Misericórdia, Associação dos Empregados do Comércio e outras instituições de solidariedade.

Mas este grande português, reconhecido por todos como um brilhante homem de negócios adiantado para a sua época, possuía ainda um lado humano de grande sensibilidade, gostando de fazer o bem, ajudando os outros.

Colégio Estadual Hygino da Fonseca-Teresópolis
Era amigo do Presidente da Câmara de Teresópolis em 1907, Hygino da Silveira, a quem decidiu homenagear depois da sua morte,   mandando construir e mobilar uma  escola que levou o nome de Hygino  da Fonseca e que doou ao governo do    Município.

 Mas da sua terra natal que sempre  guardou no coração, apesar da sua    vida intensa e absorvente como grande  homem de negócios, Manuel Lebrão,  nunca se esqueceu e a ela voltou várias  vezes.

Também aqui soube mostrar a sua filantropia, oferecendo ao povo de Sopo vário fontanários e 7 minas de água para fazerem o regadio das  hortas e pomares.
Imagem de satélite, dos terrenos da Quinta Lobão-Teresópolis
Como era de tradição os sinos das igrejas tocarem as horas para as gentes do campo, Lebrão ofereceu, em 1926 à sua terra uma bela Torre do Relógio, que ainda hoje cumpre a sua missão, perpetuando assim o seu nome. O sino, foi fundido na cidade de Braga.

Ainda em 1926, talvez de visita à sua terra "acompanhado por uma linda senhora brasileira", mandou construir um magnífico e grandioso hospital em U, na sede do concelho, que foi inaugurado em 1929 e que ofereceu à Santa Casa da Misericórdia de Cerveira, dotado ainda de mais mil contos para outras despesas.

Casa de Teresópolis em 1928


Torre do Relógio de Sopo-Cerveira

Hospital de Cerveira, inaugurado em 1929

Pelo que fica descrito, adivinha-se que Manoel José Lebrão, tenha sido um homem de vida intensamente preenchida e profícua, vivendo e amando a sua terra de sonho, o Brasil, mas guardando no seu coração a sua terra natal e as suas gentes.

Faleceu em 1933.

N.A. - Os acontecimentos descritos, podem não corresponder rigorosamente às datas referidas e, por certo, muito ficará por dizer deste grande homem. A informação disponível é dispersa, difícil de enquadrar, espalhada por Portugal e Brasil, mas talvez tenham ficado mencionadas algumas das suas mais importantes realizações.  

Outras fontes de referência:

Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, de 1891 a 1940
-http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=313394&pagfis=24933&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader#

Sobrati, faz visita oficial à Confeitaria Colombo
- http://www.sobrati.com.br/colombo.htm

Jornal Cerveira Nova, página 3 de 20 de Abril de 2000 (Lebrão morreu há 67 anos)
- http://www.cerveiranova.pt/arquivo_edicoes/ano_2000/cn_653_20_abr_00.pdf

C E R VE I R A NO V A - 5 de Outubro de 2004 Página 7MANUEL LEBRÃO - um resgate histórico Réplica do palacete da Quinta Lebrão, em Teresópolis, transformado num pobre cortiço... com o Hospital de Cerveira, um imponente edifício em cantaria renascentista que ele mandou construir e equipar, para que seus conterrâneos tivessem o alívio na hora da dor. Oferecido à Santa Casa da Misericórdia, não acompanhou a dinâmica da ciência médica e, hoje, está sendo reformado para abrigar, por arrendamento, um importante centro clínico-hospitalar da iniciativa privada. Pelo menos, deram à Avenida de acesso o nome de Manuel José Lebrão; na praça ao lado, as autoridades locais erigiram um monumento de gratidão e, recentemente, lá entronizaram, no bronze, seu busto. Em Teresópolis, a Rua Manuel José Lebrão teve alguns melhoramentos recentes, é bem verdade. Perto dali, a Escola Estadual Hygino da Silveira - que ele mandou construir, equipar e oferecer à cidade em 1926, homenageando o seu amigo, dono do Hotel Hygino, que falecera no ano anterior - bem que poderia ensinar aos alunos um pouco mais de gratidão. Aliás, seria recomendável que os dirigentes e professores da escola conhecessem um pouco mais da nossa história e, no dia 27 de Abril de cada ano lectivo, fizessem, pelo menos, uma O retrato dele ainda está lá, na parede da sala de visitas. Sozinho, entre os fantasmas amigos do passado. A casa da freguesia de Sopo, no alto daquela serra de Vila Nova de Cerveira, norte de Portugal, está abandonada há mais de vinte anos, como também o está a réplica que ele mandou construir no alto da Quinta Lebrão, em Teresópolis. Só que a de Teresópolis virou um cortiço, depois que o insensível e inoperante INSS deixou que os invasores a tomassem de assalto. A casa de Sopo, herança a ser dividida pelos onze sobrinhos-netos de Manuel José Lebrão, está à espera de quem a queira e possa comprar. A Junta da Freguesia já pensou em fazer dela a sede administrativa do lugar, mas o orçamento minguado não suportaria os altos custos da reforma. Além disso, santo de casa só faz milagres... à sua própria custa! Foi assim com os sete funcionários e com a Torre do Relógio que ele mandou construir na aldeia onde nasceu. Para que nenhum dos seus conterrâneos passasse sede... nem deixasse de acompanhar a marcha inexorável do tempo. Foi assim também Casa de Manuel Lebrão, na aldeia de Sopo, em Vila Nova de Cerveira O retrato de Manuel José Lebrão ainda habita, sozinho, a casa abandonada solenidade cívica, por mais simples que fosse, reverenciando a memória desse benemérito que, “por suas obras valorosas, se libertou da lei da morte” naquele dia de 1935. Aliás, soube-se, lendo seu testamento, que 25 apólices da dívida pública brasileira, ainda hoje bastante valorizadas, teriam sido oferecidas à Sra. Alice Fajardo da Silva, de saudosa memória, para que ela usufruísse apenas, enquanto viva, dos rendimentos daqueles papéis. Depois da sua morte, essas letras deveriam ser transferidas à Caixa Escolar Elvira Lebrão, daquela instituição educacional, para atendimento aos alunos mais carentes. Terá sido cumprida essa última vontade de Manuel José Lebrão? É um assunto para, possivelmente, ser desvendado pela diligente Promotoria pública em exercício na cidade. Porque, sabemos, “o mal que os homens fazem, sobrevive a eles; o bem, geralmente baixa ao túmulo com quem o praticou”... Antes tarde... do que nunca! Não é saudosismo, apenas. É, também e principalmente, a oportunidade que temos de resgatar os bons exemplos da generosidade social do passado, estimulando o surgimento de outros benfeitores para o futuro. No presente temos os nossos administrador es, vassouras novas que, se estimuladas, poderão desenvolver o resgate daquele pouco que ainda nos resta. Se queremos ser uma cidade vocacionada para o turismo, não podemos ficar restritos à observação visual do Dedo de Deus. Nem podemos fazer muito marketing turístico com sua imagem, porque Guapimirim já reivindica, há muito, esse privilégio, e até nos ameaçou de entrar na justiça! Por outro lado, o clima ameno, de montanha, que outrora se oferecia aos veranistas, parece que anda meteorologicamente desajustado. Temos, portanto, que criar novas alternativas de interesse. A nova secretária de Cultura deve estar elaborando seu plano de acção para os próximos meses. Quem sabe, para os próximos quatro anos. Então, à guisa de colaboração, sugerimos-lhe que reivindique uma vistoria oficial - física e documental - na casa de veraneio de Manuel José Lebrão. Aquele palacete, réplica do que, hoje abandonado, está na Freguesia de Sopo, em Portugal, não merece acabar num cortiço! Pelo valor histórico e arquitectónico. Se temos tão pouco, preservar o que resta é mais que preciso! A propriedade, onde outrora se cultivavam os frutos que forneciam a matéria-prima para a famosa “Marmelada Colombo”, foi transformada numa das mais valorizadas favelas que surgiram em Teresópolis nos últimos anos. Reverter o quadro é impossível. A solução, que já vem sendo informalmente exercitada, é planejar o que ainda resta para a sua urbanização. Mas o histórico palacete permanece e resiste, teimosamente, no alto da velha Quinta Lebrão. Morrendo, sim. Mas, devagar. O governo municipal, sensível também às coisas da cultura, ainda poderá reverter o quadro. Negociando a saída honrosa dos moradores do cortiço, que amesquinham a história e envergonham a cidade. É o mínimo que podemos fazer em memória do benemérito Manuel José Lebrão, transformando a réplica teresopolitana da sua casa de Sopo num centro comunitário sóciocultural. Na sala de visitas ainda há pinturas em afresco alusivas à aventura do descobridor da América. Atracção turística para ser preservada. Tudo isso ainda é possível. Um ovo de Colombo. Sem marmelada.
In - Revista “COBERTURA” (Brasil) Setembro de 2004

Legendas das fotos
Torre do Relógio. Inaugurada em 1927, o sino ainda bate no coração da aldeia portuguesa O estilo clássico do Hospital de Cerveira inspirou o projecto da E.E. Hygino da Silveira (ao lado) Escola Hygino da Silveira, construída e oferecida à cidade em 1926

Na marchinha de carnaval de 1952, "Sassaricando", pela sua importância na vida do rio e dos cariocas, a Colombo foi  mencionada, para além de já ter sido retratada no cinema e na literatura.

Sassassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sassassaricando
A viúva, o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo                    
É um assombro
Sassaricando

Sassassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sassassaricando
A viúva, o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo
É um assombro
Sassaricando

Quem não tem seu sassarico
Sassarica mesmo só
Porque sem sassaricar
Essa vida é um nó



E como tudo aconteceu, apenas porque um homem não desistiu. Uma homenagem a Manuel José Lebrão