Bandeiras dos Palop

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Mocidade Portuguesa - Amores e desamores

Bandeira da Mocidade Portuguesa
A Mocidade Portuguesa, foi uma organização do Estado Novo Português, instituída em 1936 por Carneiro Pacheco e que tinha por fim educar cívica, moral e intelectualmente, a juventude portuguesa da época. Tinha carácter nacional, compreendendo as então Províncias Ultramarinas e destinava-se aos jovens em idade escolar, de ambos os sexos.

Esta instituição, juntamente com a chamada Legião Portuguesa, duraram cerca de 38 anos, até à Revolução do 25 de Abril de 1974, que instituiu um regime democrático, que acabou com a organização.

Por instruções dadas pelo próprio Chefe do
Governo da altura, António de Oliveira Salazar, pretendia-se que, em Portugal, existisse uma organização juvenil organizada, forte, com bons princípios morais e cívicos, mas também fomentadora das actividades ao ar livre, ordem unida (que consistia em aprender a fazer uma formatura do tipo militar), desporto, acampamentos, etc, conforme já acontecia em Espanha com a Juventude Franquista, na Alemanha com a Juventude Hitleriana e na Itália, com a Juventude Fascista de Benito Mussolini.

Juventude fascista Italiana
De facto, depois das primeiras vitórias da Alemanha na Segunda Guerra Mundial e nomeadamente depois da invasão da URSS, Salazar não escondia uma certa admiração por Hitler, que considerava um grande líder por ter afastado da Europa o espectro do comunismo, então muito temido nos países do ocidente.

Ainda anteriormente, Hitler, já havia participado com a sua força aérea na Guerra Civil de Espanha, como aliado do então ditador Francisco Franco, que, entretanto, criou a Juventude franquista.

    
Juventude Hitleriana
Benito Mussolini, aliado de Hitler, criou também a juventude fascista italiana, em seguimento da         criação da juventude Hitleriana. 

Nos anos que antecederam a Segunda Guerra e enquanto o poder alemão se afirmou, Hitler funcionava como o grande ídolo a seguir por alguns regimes da direita mais conservadora europeia.

E foi neste seguimento, que foi criada a Mocidade Portuguesa. Salazar, por motivos políticos internos, precisava de mostrar eficácia, força e organização. A Mocidade Portuguesa surgia assim como uma organização que, em teoria, teria por principio: Deus, Pátria e Família.

 Educar a juventude segundo os padrões políticos e religiosos da época, era o objectivo.
 Para tanto, foram criadas várias graduações conforme a idade e eram ministrados cursos de formação e aptidão, com escolas próprias, espalhada por todo o País, que abordavam um pouco de tudo, não esquecendo uma "certa" formação para-militar. 

Mocidade Portuguesa 1940
As fardas, tanto masculinas como femininas, eram compostas por uma camisa verde com emblema da MP, calças em tom de mel e o cinto tinha uma particularidade especial, já que, na respectiva fivela, ostentava um S de Salazar, mas que o regime dizia ser um S de servir.

O bivaque de cor castanha, ostentava uma roseta de metal e era obrigatório o seu uso, ao circular na via pública.

Para que existisse um clima de disciplina escalonada, existiam as graduações que começavam em:
- Chefe de Quina
- Chefe de Quina Arvorado
- Comandante de Castelo
- Comandante de Grupo de Castelos
- Comandante de Bandeira
- Comandante de Falange
- Comissário Distrital da MP

Finalmente, havia o Hino da Mocidade, que todos eram obrigados a aprender de cor e que era cantado em grupo, frequentemente. 

Falangistas espanhóis
Cinto da Mocidade com o S de Salazar
O chefe do governo da altura, Salazar, era formado em economia e finanças pela Universidade de Coimbra mas, anteriormente, tinha frequentado até ao 8º ano o seminário de Viseu. Era por isso um homem profundamente religioso, crente e as amizades que construiu nessa época, ficaram até ao fim da sua vida, nomeadamente com o então muito influente Cardeal Cerejeira, chefe da Igreja Católica, que tinha sobre Salazar um forte influência.

A Mocidade Portuguesa, assim pensada e construída, era, na sua essência, uma organização fascista, onde se praticava a continência com o braço direito no ar, bem ao estilo nazi e onde era exercida a disciplina de grupos.

Na prática a realidade era bem diferente. A juventude participava em acampamentos colectivos, desfiles comemorativos, provas de campo, montagem de tendas, viagens por todo o país e até estrangeiro, contacto e desenvolvimento de boas relações com os jovens da juventude franquista, quer em Portugal quer em Espanha, provas desportivas e até viagens às Províncias Ultramarinas foram realizadas, de navio, com despesas totalmente pagas pela MP (mocidade portuguesa).

Os transportes de pessoas e carga, ficavam normalmente a cargo da Legião Portuguesa, com a qual existia uma estreita ligação de regime. Os alunos mais desfavorecidos eram ajudados no pagamento das suas propinas, livros e até fardamento, desde que pertencessem à MP. O cultivar de estreitas relações de amizade com alunos de outros estabelecimentos de ensino, era uma realidade diária e permanente.

Nada era deixado ao acaso e nas deslocações a outras cidades ou concelhos, lá estavam o presidente da câmara ou o governador civil, para receber a Mocidade. E mesmo em Espanha, isso acontecia.

      
Farda da Mocidade Portuguesa
Durante os acampamentos onde se praticavam diversas actividades, havia sempre, ao fim do dia, a chamada "chama" da Mocidade, que consistia numa grande fogueira, à volta da qual todos se reuniam. Cada um, fazia o que tinha dote para fazer. Cantar, dançar, contar anedotas, declamar poemas, tocar instrumentos musicais, etc. Para esta chama, eram todos convidados, incluindo família e autoridades representativas do local. No fim, eram distribuídos pequenos presentes de estímulo aos que mais se destacavam.

Em todos os acampamentos havia uma missa campal, com todos os requisitos. Estas missas eram muito frequentadas, mesmo por pessoas de fora.

Face a todo este envolvimento, de contactos permanentes entre uns e outros, de grandes convívios nacionais e internacionais, era fácil viver feliz, satisfeito consigo próprio e com os outros. Havia por isso, imensos jovens que amavam a Mocidade, as suas actividades e aquilo que ela lhes proporcionava, dificilmente faltando a qualquer actividade. O impulso gerado era transversal a toda a sociedade, aproximando mais os ricos e os pobres que aqui, eram vistos apenas pela sua aplicação e dedicação.

Divisas de Chefe de Quina e
Comandante de Castelo
 Tudo isto era complementado com as chamadas Casas da Mocidade, normalmente nas capitais de distrito, onde havia actividades e entretenimento de todo o tipo: Ténis de mesa, matraquilhos, bilhar livre, snooker,  estúdio de fotografia, biblioteca.
 Campeonatos, nas várias modalidades, também eram realizados.
Aos sábados, era frequente haver cinema nos ginásios dos estabelecimentos de ensino. Tudo era preparado e arrumado pelos filiados, que pagavam pela entrada um pequeno valor.

Mas havia também o reverso da medalha. Diria que os que menos se envolviam, eram os que menos gostavam da MP. De facto, o convívio e o contacto, só eram possíveis aqueles que compareciam e participavam. Ninguém era excluído, mas havia quem se auto-excluísse. Principalmente nas actividades físicas como ginástica e ordem unida.
O lado ideológico, raramente era invocado, porque não se fazia sentir no dia a dia das actividades.

       
Divisas de Comandante de Grupo e
de Comandante de Bandeira
Olhando para trás, penso que foi uma organização extremamente positiva e benéfica para aquelas gerações.
Aquando da entrada para o serviço militar obrigatório, já muitos daqueles jovens levavam preparação pré-militar, como: Ordem unida, saber marchar, saber interpretar e seguir uma carta de campo, funcionar com uma bússola e desenrascar-se no meio da adversidade.

 Através da MP, muito foi aprendido, muito boas amizades se construíram e ficou uma experiência, então adquirida, para o resto da vida.


Os tempos mudaram, os hábitos alteraram-se mas fica a sensação que hoje, nada existe que ajude a encontrar o caminho à juventude. É verdade que em qualquer lugar se pode construir uma bela amizade, mas não há amizade como a que é forjada na partilha e resolução das dificuldades.